Saúde da população negra: racismo e condições sociais limitam acesso a serviços e tratamentos
Entenda a importância da conscientização da saúde da população negra.
Se alimentar corretamente, beber bastante água, praticar atividade física e visitar o médico regularmente são práticas que, em tese, mantêm a saúde em dia. E de maneira geral, parece algo bem simples de colocar em prática por qualquer um. Em síntese, por que é preciso dedicar o dia 27 de outubro para falar sobre a saúde da população negra?
A princípio, o Dia Nacional de Mobilização Pró-Saúde da População Negra, tem como objetivo fazer com que profissionais de saúde atentem à Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, ao racismo e seu impacto sobre a saúde mental, a ampliação da cobertura da saúde para negros, as desigualdades étnico-raciais e ao racismo institucional.
Em outras palavras, “é uma oportunidade importante para evidenciar e discutir os terríveis efeitos do racismo estrutural e institucional sobre a população negra. Ao reconhecer o racismo e buscar formas eficazes de enfrentá-lo, os profissionais contribuem para promover, afinal, a equidade. Por exemplo, na produção da saúde de diferentes grupos raciais”, explica a psicóloga Jeane Tavares.
A saúde física
A luta para ter acesso à saúde começa cedo, com mulheres negras que se tornam mães. De acordo com o Ministério da Saúde, 60% das mortes maternas ocorrem entre mulheres negras e 34%, entre mulheres brancas. Já o segundo obstáculo é com os recém-nascidos: no Brasil, a maior taxa de mortalidade neonatal atinge crianças negras.
Com o passar dos anos, as dificuldades não diminuem, principalmente devido às condições socioeconômicas da população negra, majoritária no País. Segundo o IBGE, mais da metade da população brasileira é negra ou parda, em sua maioria pobre e sem oportunidades, dificultando o acesso à saúde.
Falta de Recursos
Essa falta de recursos também limita a busca por ajuda médica em hospitais e clínicas do SUS. Isso faz com que a população negra seja a que mais sofre. “Aproximadamente 70% dos brasileiros que utilizam e têm acesso ao SUS é a população negra. Não é possível prever quanto tempo vai levar para ela chegar de fato aos serviços de saúde.
Primeiramente, é preciso investigar e fazer diagnóstico o mais precoce possível. Quando uma pessoa negra consegue chegar ao SUS, muitas vezes já está em uma situação, por fim, de agravo, explica a residente médica Monique França.
Além dos problemas socioeconômicos, o Ministério da Saúde informa que a população negra é mais suscetível a doenças genéticas e, da mesma forma, hereditárias. Monique reforça, porém, que outros aspectos devem ser analisados antes e depois do diagnóstico dessas doenças, que vão além da hereditariedade.
“É preciso entender as condições às quais o negro está inserido na sociedade, qual a situação de moradia e saneamento básico dele. Precisamos saber se ele está marginalizado, como é o emprego e a vida. Tudo isso vai se refletir na saúde dele. São vários os fatores que podem levar à adesão do tratamento e ao controle da doença.
O direito à saúde
Existe ainda outro fator que atrapalha o direito à saúde da população negra, o chamado racismo institucional. Ele tem origem do preconceito, o que faz com que negros recebam um tratamento diferente em lugares comuns e públicos.
Na prática, o racismo institucional pode ser entendido como quando uma pessoa negra entra em uma loja e é seguida por seguranças, por exemplo. Em serviços de saúde, o racismo institucional ocorre quando um indivíduo passa mal e o médico releva os sintomas ou nega medicamentos, por acreditar que pessoas negras são mais resistentes e tolerantes à dor e ao mal-estar.
Exemplos como esses são reflexo da marginalização da população negra na sociedade como um todo, como reforça Jeane Tavares. “Entendemos que o campo da saúde, como todos os demais, reproduz as condições de privilégio, subordinação e racismo estrutural, organizando-se de forma a dificultar ou impedir o acesso das populações marginalizadas a cuidados. No caso do Brasil, as mais prejudicadas são a população negra e indígena”.
A saúde mental
É possível dividir a saúde entre física e mental e, para que o organismo funcione bem, ambas devem ser trabalhadas. Tendo em vista todos os processos e desafios que a população negra precisa enfrentar diariamente, como vulnerabilidade social e ataques raciais, que afetam diretamente o emocional, a saúde mental se torna o segundo foco de atenção das políticas de saúde para esse grupo.
Antes de tudo, Jeane Tavares esclarece que muitas das características socialmente desejáveis, como beleza, sucesso, ética, inteligência e moralidade, estão associadas exclusivamente aos brancos e podem causar o adoecimento psíquico da população negra.
“Crescendo em uma sociedade que ridiculariza e demoniza a negritude, a pessoa negra é levada a negar sua identidade racial e buscar de forma irracional se adaptar ao padrão imposto. No entanto, como alcançar este padrão é impossível para não-brancos, geram-se crenças persistentes de inadequação, desvalor, desamor e impotência, que são associadas a depressão e diferentes transtornos de ansiedade”, ressalta Jeane.
A fala da psicóloga simboliza o que crianças, jovens e mulheres negras fazem todos os dias: se submetem a horas de tratamento capilar para deixar os fios lisos, porque acreditam ser mais bonito e aceitável; ou ainda quando realizam cirurgias plásticas no nariz para afiná-lo e reduzir os traços ancestrais. Não cabe julgar essas e outras ações, porém elas refletem a busca da beleza estabelecida na sociedade.
A realidade de pressão elucidada por Jeane é reforçada pela análise do DAGEP, ou seja, do Ministério da Saúde. Entre 2012 e 2016, o índice de suicídio entre a população negra foi maior em comparação às demais raças
É possível melhorar a situação?
A saber, o caminho para melhorar o acesso e os cuidados com a saúde da população negra é longo. Acredita-se que é possível, por meio de mobilizações sociais e reformulações que promovem a conscientização.
“É um trabalho de formiguinha. Não é uma coisa rápida e não é para amanhã. Uma entrevista com alguém é um passo importante, trazer isso para a formação acadêmica do médico e ter espaços de discussão demarcam responsabilidade e ajuda”, acredita Monique França.
A psicóloga Jeane Tavares afirma que é preciso exigir a prática da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, que “reconhece o racismo, as desigualdades étnico-raciais e o racismo institucional como determinantes sociais das condições de saúde”. Jeane também acredita que, por mais doloroso que seja para vítimas ou testemunhas, denunciar situações de racismo e negligência por profissionais da saúde é mais um passo importante para a conscientização da sociedade.
Onde buscar ajuda
Para identificar quais casos são ocorrências de racismo ou descaso por parte dos centros de saúde, atente-se a atitudes semelhantes às descritas na lista abaixo. Lembre-se que esses são apenas exemplos, então, caso tenha alguma outra queixa que não está descrita na matéria, não deixe de entrar em contato com Disque Saúde, pelo número 136.
Racismo direto: ofensas racistas podem ser identificadas com mais facilidade, principalmente quando são explícitas. Criticar a cor da pele de uma pessoa e dizer frases taxativas, como “tinha que ser negro”, são algumas delas. Essas atitudes, além de ferir a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, podem se configurar crime
Restrição de atendimento: quando médicos negam atendimento ou não realizam a consulta de maneira atenciosa com a população negra pelo fato da pessoa ser negra, isso fere as diretrizes da Política Nacional e pode ser denunciado
Agressão verbal e/ou física: se durante a consulta você notar que o médico, enfermeiro ou outro profissional realizou o exame de forma agressiva, apertando machucados e partes do corpo, causando dor ou agindo de forma ofensiva, com gestos e palavras, denuncie
Limitação de medicamento: no SUS ou em outros locais ambulatoriais, é comum que o paciente seja questionado e examinado pelo médico antes de receber uma medicação. Porém, se ela for negada sob a alegação de que “você é forte e aguenta”, “é apenas uma dor passageira” ou frases parecidas, que reduzem os sintomas e a dor, não deixe de relatar.
Além do Disque Saúde, existe o Centro de Valorização da Vida, que disponibiliza atendimento telefônico gratuito pelo número 188 ou online (pelo site, chat, Skype e e-mail) para pessoas que estão passando por momentos difíceis e precisam conversar com alguém.
Fonte: Valéria Soares
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Davi Sidney, SEO – Posicionamento Orgânico, Prof. de fotografia, Teologia e Direitos Humanos.
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